Coisas de outros tempos
quinta-feira, dezembro 08, 2005
Bonecas de papel
É do conhecimento geral que o papel foi inventado na China, por volta do ano 105, por Ts'ai Lun, muito embora a palavra derive do termo papiro, se bem que este papel nada tinha em comum com o fabrico do papiro, e não é de estranhar, portanto, que as primeiras figuras de papel tenham origem nesse país do Oriente, sendo utilizadas numa cerimónia de purificação através da sua colocação num pequeno barco, envolvidas numa espécie de quimono, e também não será desconhecida a utilização de figuras recortadas em papel em teatros de sombras.
Mas as bonecas só surgiram por volta do século XVII, na Alemanha, sendo manufacturadas em madeira, e os artesãos que as fabricavam eram requisitados em toda a Europa. Daí até ao aparecimento das bonecas de papel foi um pequeno passo. As primeiras terão surgido em Paris, no século XVIII, durante o reinado de Luís XV, e eram sobretudo utilizadas pelos fabricantes de roupas para publicitar os seus produtos junto dos seus clientes, já que cada uma destas bonecas, em cartão, vinha com diversos modelos de roupa e de penteados à parte.
Foi em 1810 que a empresa inglesa S. & J. Fuller & Company mandou imprimir a primeira boneca de papel com intuitos comerciais. Chamava-se Little Fanny, e surgia num livro de 15 páginas que incluía sete figuras e cinco chapéus. A sua cabeça e pescoço eram separados, de maneira a poderem ser utilizados em diversos figurinos, que contavam uma pequena história. Cada um destes livros custava entre 5 a 8 xelins, um valor apenas ao alcance das famílias mais abastadas.
O seu sucesso levou ao aparecimento da versão norte-americana, fabricada por J. Belcher e dentro de uma dezena de anos tinham-se já popularizado os brinquedos constituídos por caixas de bonecas de papel contendo diversos figurinos. As figuras eram normalmente litografadas ou pintadas à mão, muito embora surgisssem também a preto e branco, para serem coloridas pelas crianças. Por volta de 1830 começaram a aparecer composições mais elaboradas, sobretudo baseadas em celebridades, como circos ou reproduções da família real de Inglaterra e em 1838 Charles Fenerty passou a fabricá-las a partir de pasta de papel, o que fez diminuir muito o seu preço, tornando-se assim ainda mais populares e ao alcance das bolsas de famílias da classe média. Por volta de finais do século XIX, alguns jornais começaram também a imprimir bonecas de papel, que conheceram uma grande popularidade por altura da depressão dos anos 20, já que eram frequentemente distribuídas conjuntamente com os suplementos de quadradinhos, apresentando algumas das suas mais populares personagens.
A sua utilização enquanto brinquedo teve ainda forte expressão durante todo o século XX, principalmente até aos anos 60 e 70 ( as décadas mais significativas foram as de 30, 40 e 50), decaindo posteriormente a sua popularidade face à massificação de bonecas com roupas já em tecido, e hoje em dia, muito embora ainda se fabriquem, são sobretudo destinadas a coleccionadores.
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