Coisas de outros tempos

Depositório de imagens (e alguns textos) de coisas várias

terça-feira, março 29, 2005

O Sempre Fixe


O Sempre Fixe, semanário humorístico, teve o seu primeiro número publicado a 13 de Maio de 1926, sendo director e editor Pedro Bordallo, era propriedade da Renascença Gráfica S.A.R.L., com sede em Lisboa, e a sua existência prolongou-se por 35 anos.

Tinha periodicidade semanal, com uma linha editorial inspirada em Bordallo Pinheiro, e nele se destacaram desenhadores como Francisco Valença, que nas suas páginas reconstituiu o Zé Povinho, Amarelhe, Stuart Carvalhais, Jorge Barradas, Roberto Nobre, Bernardo Marques, e ainda Carlos Botelho, que para ele criou uma secção intitulada Ecos da Semana, publicada a partir do número 104, de 1928, em que se pretendia satirizar o quotidiano da Lisboa mundana.

Desde o seu início que o Sempre Fixe se viu condicionado pela Censura, que abrigou a publicação a enveredar pela sátira de costumes e não pela da política, escapando desse modo à apertada actuação dos censores, que no entanto ocasionalmente cortavam determinadas ilustrações, o que levava Carlos Botelho a desenhar um pequeno mocho dentro da vinheta para assinalar que tal havia sucedido.

Foi ainda no Sempre Fixe que se publicaram alguns dos melhores cartoons de Stuart, e grande parte da obra gráfica de Almada Negreiros. Esta publicação ainda se caracterizou por incluir tiras ou pranchas de histórias aos quadradinhos, algumas das quais integradas na sua secção infantil Petiz-Jornal.
Mais tarde, viu algumas das suas páginas reeditadas como suplemento ao já extinto vespertino Diário de Lisboa.



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segunda-feira, março 28, 2005

O Coliseu dos Recreios e a ópera


Devido ao desaparecimento de diversas casas de espectáculos em Lisboa, tornava-se urgente a construção de um espaço cultural na cidade, o que veio a acontecer com a edificação do Coliseu dos Recreios, cuja sala é inaugurada a 14 de Agosto de 1890.

Foi sempre considerada uma sala de espectáculos popular, apresentando espectáculos de ópera a preços mais baixos do que os que se verificavam no Teatro de São Carlos, tendo-se até aí estreado uma companhia de ópera em 1916, e por lá passaram nomes como Alfredo Kraus, Carlo Bergonzi, Fiorenza Cossotto, Joan Sutherland, Titto Gobbi, Tomás Alcaide, entre outros, sendo os espectáculos de ópera organizados em colaboração com o São Carlos entre 1959 e 1981.

O Teatro Capitólio, construído em 1931, e por muitos considerada a primeira obra modernista da arquitectura portuguesa, encontra-se no Parque Mayer, hoje num lamentável estado de degradação. Também aí se realizavam espectáculos musicais, de que aqui deixamos o exemplo de um programa de 1945 relativo à 1ª temporada de Zarzuela pela Companhia Sagi-Vela, de uma comédia musical intitulada Luisa Fernanda, a partir de um poema de Frederico Romero/Fernandez Shaw, com música de Moreno Torroba.



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Os programas do Coliseu são de espectáculos de ópera, das temporadas de 1943, 1945 e 1946. E ainda de um espectáculo de circo, da temporada de 1945. A empresa era a de Ricardo Covões, e o preço dos programas oscilava entre 1 escudo (para o de circo) e os 1$50, 2$00 e 2$50 para os de ópera.




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domingo, março 27, 2005

As revistas «Colóquio»


A Colóquio, revista de artes e letras, editada pela Fundação Calouste Gulbenkian, teve o seu primeiro número publicado em Janeiro de 1959, dirigida por Reynaldo dos Santos, Hernâni Cidade, Bernardo Marques, e Leonardo Matias, terminando no número 61, de Dezembro de 1970, sendo de publicação bimestral.

Numa fase posterior, deu origem a duas revistas, a Colóquio Artes, sob a direcção de José Augusto França e a Colóquio Letras, dirigida por Hernâni Cidade e Jacinto do Prado Coelho. A Colóquio Artes publicou o seu número 1 a Fevereiro de 1971, tendo o último, o número 111, sido de Outubro-Dezembro de 1996. A Colóquio Letras publicou o seu primeiro número em Março de 1971, tendo o último publicado sido o 161/162, de Julho-Dezembro de 2002, apresentando uma publicação trimestral.

Em 1988, surgiu a revista Colóquio Ciências, sob a direcção de João Andrade e Silva, com uma periodicidade quadrimestral, sendo o último publicado o número 25, de Maio de 2000.
Todas estas revistas tiveram - e continuam a ter - um papel fundamental na investigação cultural em Portugal, muito embora a irregularidade com que passaram a ser publicadas lhes tenham retirado algum do fulgor que outrora tiveram.




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sábado, março 26, 2005

Agência Rapid

quarta-feira, março 23, 2005

Colecções de cromos


Muito embora ainda existam, as colecções de cromos constituíam uma das maiores torturas infantis em tempos recuados, quando muito se sofria para encontrar os que faltavam para completar as cadernetas, tantas vezes deixadas incompletas por algum desleixo, sobretudo parental, com recusas por vezes sistemáticas para que a lista de faltas fosse enviada à editora a fim de que esta completasse a colecção. Esta angústia ainda hoje assalta os coleccionadores mais obsessivos, que se vêem constrangidos a completar tudo o que coleccionam e que se lhes apresenta incompleto.

As cadernetas e as colecções mais conhecidas iam desde os cromos de futebol, hoje bastante difíceis de encontrar, sobretudo completas, mas também incidiam em filmes, séries infantis, que eram muitas vezes praticamente o único acesso a cenas dos filmes ou de desenhos animados onde a televisão não chegava, e outras de cariz mais cultural, como a História de Portugal, de que recordo aqui uma série com desenhos de Carlos Alberto Santos, As Raças Humanas, os Uniformes e Bandeiras, as Maravilhas do Mundo, a História Natural, e muitas outras, em grande parte editadas pela Agência Portuguesa de Revistas, a Editorial Íbis, e algumas outras, que contribuíam para fornecer às crianças e jovens um maior conhecimento do mundo que os rodeava, se bem que algumas vezes essas colecções se apresentassem imbuídas de um grande pendor ideológico, a que não eram alheias todas as outras publicações da altura destinadas à infância e à juventude.

Hoje em dia impera sobretudo o mercado do cinema de animação e o futebol, que são praticamente as únicas colecções que ainda se comercializam, sobretudo devido à influência da televisão e do cinema. Pelo meio ficaram algumas colecções curiosas de jornais do mundo, que também apareceram sob a forma de calendários, de notafilia e numismática, embora estas ainda surjam ocasionalmente no mercado, sob a forma de réplicas.



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segunda-feira, março 21, 2005

Histórias infantis


Os brinquedos desde sempre fizeram parte do imaginário infantil, e muito embora hoje em dia esteja mais em voga a noção do brinquedo enquanto instrumento pedagógico-didáctico, os brinquedos de antigamente continuam a ter um lugar especial no coração dos mais velhos, ou porque com eles se identificam ou porque neles encontram momentos de magia em tudo idênticos aos que uma vez viveram, ou ainda por mera curiosidade ou espírito de coleccionista.
Se os brinquedos da segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX eram em grande parte produzidos em folheta, muitos dos quais constituindo uma parte importante de colecções de museus, havendo até na região de Lisboa um museu inteiramente dedicado ao tema, actualmente existem regras bastante mais rígidas para os materiais em que são produzidos, evitando muitos dos acidentes que ocorriam em tempos mais recuados, mas por outro lado verificando-se também uma grande quantidade de brinquedos tecnologicamente muito avançados, ou mesmo ligados ao universo das novas tecnologias da informação, relegando muitas vezes os livros para um lugar secundário.

Mas há coisas que não desaparecem com o tempo, e as histórias infantis são uma delas. Editadas em Portugal principalmente pela Majora, uma editora de livros para crianças e fábrica de brinquedos que era capaz de competir com outras empresas internacionais, publicavam-se livros em papel ou mesmo em pano de diversos formatos com histórias que provinham das Mil e uma Noites, do imaginário de Charles Perrault, dos irmãos Grimm ou de outros autores, livrinhos que ensinavam a primeiras letras e que incentivavam à leitura e permitiam um vislumbre do mundo mágico dos contos, muito embora pudéssemos neles encontrar frequentemente a indicação de que a publicação tinha sido autorizada pela Comissão de Literatura e Espectáculos para Menores.

Exemplo destes livrinhos encontramos aqui nestas reproduções, desde a História da Bela Adormecida, de C. Perrault, editado pela Livrolândia, Lda., e integrada numa série de Histórias Tradicionais, até às Viagens do B-A-BÁ no País da Sabedoria, escrito e desenhado por Gabriel Ferrão, da Majora, e que misturava sabiamente a aperndizagem das letras com o mundo fantástico das histórias infantis, passando por A Bengala do Papo-Seco, também da Majora, que era uma adaptação da história tradicional, realizada por Dora Santiago, com desenhos de Gabriel Ferrão.



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Mas havia livros que constituíram, muito particularmente pelo seu formato, um mundo à parte nesta literatura infantil: era os livros de pequenas dimensões, como O Moço sem Pinta de Sangue, uma adaptação de Costa Barreto, com desenhos de César Abbott, integrado na colecção «Contos das Mil e Uma Noites», e editado pela Majora, e muito especialmente os livros da «Colecção Periquito», como Os Três Felizardos, da Majora, um livrinho de 16 páginas, com cerca de 12 x 9 cm, e ainda os da «Colecção Formiguinha», igualmente da Majora, como este O Sapateiro e o Brilhante, também com 16 páginas, mas com uma dimensão de 9,8 x 7,2 cm, aproximadamente, e os da «Colecção Tonecas», como Gulliver no país dos anões, que em 16 páginas, incluindo as capas, nos relatava aventuras no tamanho mínimo de 7,2 x 5,5 centímetros por um preço de 40 centavos.



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sexta-feira, março 18, 2005

Reisepass


Não foram muitos os refugiados judeus que acabaram por ficar em Portugal. Para a grande maioria, Lisboa servia de trampolim para atingirem os Estados Unidos, onde muitos possuíam já familiares. Mas sabemos, por um ou outro testemunho, o que aconteceu a algumas famílias, e como era a Lisboa de então e como eram encarados pela retrógrada, católica e conservadora sociedade lisboeta, para além de nos ter igualmente ficado a história de Aristides Sousa Mendes, que se atreveu a contrariar as ordens de Salazar, ao passar vistos de entrada em Portugal a quantos lhe pediam ajuda.

A concessão de vistos de entrada no nosso país fazia com que os refugiados se confrontassem com inúmeras dificuldades, já que era frequente só poderem receber em Portugal os recursos para a aquisição de uma passagem, sendo que esta só era vendida mediante a posse prévia de um visto de trânsito, que por seu turno só era obtido mediante a obtenção de vários outros vistos e mediante a apresentação do referido bilhete de transporte, e o mesmo se passava na concessão dos vistos de entrada nos países de acolhimento. Estes eram muito difíceis de obter e para ultrapassar essa dificuldade muitos refugiados compraram-nos nos consulados de países latino-americanos ou asiáticos que, apesar de darem acesso a vistos portugueses, eram inválidos para continuar caminho a partir de Lisboa, pois só eram atingíveis através dos Estados Unidos ou do Brasil, que não concediam vistos de trânsito. Antes de chegarem a Portugal, eram necessários 4 vistos (que na prática eram 5): um visto de saída da Alemanha ou dos países ocupados, um visto de entrada na «zona livre» da França e um visto de trânsito espanhol e outro português. Este visto de trânsito em Portugal dependia da concessão dos anteriores.
Os vistos portugueses só começaram a ser passados e concedidos no início da guerra sob a condição de os refugiados já terem obtido um visto de entrada num país de destino ou de acolhimento e uma passagem num navio caso o seu país de destino se situasse na América. Só depois da obtenção destes dois vistos por parte do refugiados é que o governo português autorizava os embaixadores a passarem e a concederem vistos de entrada no nosso país.

Aos judeus que conseguiram abandonar a Alemanha, foi mais fácil fazê-lo antes do início da II Guerra Mundial, entre os quais se contará certamente o caso a que se refere o documento abaixo. Datado de 27 de Abril de 1938, destinava-se a um indivíduo do sexo feminino e a duas crianças (todos de origem judaica), e terá sido passado pelo consulado alemão em Lisboa.



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quinta-feira, março 17, 2005

Revista «A Esfera»


Muito embora se mantivesse neutral durante a II Guerra Mundial, o regime salazarista mantinha uma clara preferência pelos nacionais-socialistas, ao ponto de facilitar a movimentação dos seus agentes em Portugal, de colocar obstáculos à entrada de refugiados no país, sobretudo de origem judaica, o que chegou a ser alvo de um romance de Erich Maria Remarque, Uma Noite em Lisboa, chegando a afastar o cônsul Aristides de Sousa Mendes por este passar vistos de entrada no país a alguns milhares destes refugiados. Para além disto, enquanto a censura se mostrava activa face a «ameaças» ideológicas de esquerda, tolerava (ou apoiava) a publicação de periódicos que claramente assumiam uma posição que favorecia os países que contituíam o Eixo, nomeadamente a Alemanha, a Itália e o Japão.

Exemplo deste tipo de publicações é a revista A Esfera, sobre a qual não encontrámos referência na base de dados da Biblioteca Nacional, e de que damos aqui dois exemplos, os números 34 e 47, datados de 5 de Dezembro de 1941 e de 20 de Junho de 1942, publicada pela Sociedade Editora A.L.M.A., Ltd., sediada em Lisboa, cujo director era Félix Correia (que, tanto quanto sabemos, foi Presidente da Assembleia Geral do Sindicato dos Jornalistas no biénio 1945/1946, e possui rua com o seu nome em Lisboa, dando igualmente o nome a uma praça na Reboleira), e editor Francisco Rodrigues Tôrres. De grande formato (36,6 x 27 cm), com 32 páginas, publicava diversas rubricas, entre as quais artigos que faziam claramente a apologia da Alemanha e dos seus feitos militares, destacando muitas fotografias de situações de batalha, dando ainda uma primazia a outros aspectos que enalteciam a arte e a cultura alemãs, a sua capacidade fabril, publicitando as emissões da Rádio Berlim, atacando os países comunistas, para além de mostrar diversos aspectos do então intitulado Império Português e de outras demonstrações do regime, como o eram a Mocidade e a Legião Portuguesas, sem esquecer algumas secções dedicadas à mulher, nomeadamente as que incidiam sobre a moda e a culinária.

O seu director, Félix Correia, terá sido o mesmo jornalista que acompanhou a guerra civil de Espanha, pelo Diário de Lisboa, juntamente com muitos outros deste e de outros periódicos, segundo relata um artigo de Alberto Pena Rodriguéz.

Relativamente a esta revista, agradecemos a colaboração de Random Precision.



Capa do número 47, com Salazar em destaque. * Image hosted by Photobucket.com

Contracapa do número 47, com uma fotografia de três oficiais, um alemão, um italiano e um japonês. * Image hosted by Photobucket.com

Pormenor da contracapa do número 47. * Image hosted by Photobucket.com

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Capa do número 34, com as imagens do desfile da Mocidade Portuguesa na Praça dos Restauradores, por altura das comemorações do dia 1 de Dezembro. * Image hosted by Photobucket.com

Contracapa do número 34, que apresenta uma «vista parcial do átrio do Congresso no campo do partido do Reich, em Nuremberg». * Image hosted by Photobucket.com

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