Coisas de outros tempos

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terça-feira, abril 05, 2005

Um retrato de Camões


Dos retratos de Luís de Camões, o mais antigo e porventura mais conhecido será o de Fernando Gomes, que se estima datar de 1570, havendo ainda uma iluminura, conhecida como o retrato oriental, de 1581, assinado por «um certo Pinto», como refere Xavier Coutinho na sua obra Camões e As Artes Plásticas, publicado pela Livraria Figueirinhas na cidade do Porto em 1946. Um terceiro retrato de Camões, que ilustra os Discursos varios politicos de Manuel Severim de Faria, editado em Évora em 1624, é obra de A. Paulus, e neste o poeta surge-nos «em meio corpo voltado de três quartos para a esquerda, cego do olho direito, coroado de louros, vestindo armadura; na mão direita tem uma pena e a esquerda está apoiada sobre um livro», como assinala o autor acima citado. De 1641, Xavier Coutinho menciona um medalhão oval atribuído a Agostinho Soares Floriano e depende do de 1624 na pose em que Camões nos surge, em muito semelhante à acima referida.

Merece ainda aqui referência um retrato assinado por Pedro de Villa Franca, datado de 1639, constando numa edição de Madrid de Os Lusíadas, em que Camões nos surge em busto sobre um pedestal, cego do olho esquerdo, tal como numa gravura de 1655 de Th. Cross para uma edição inglesa da epopeia, editada em Londres naquele ano.

O retrato que gostaria aqui de referir e que ilustra este post apresenta Camões em posição idêntica aos retratos de 1624 e 1641, envergando igualmente uma armadura e coroado de louros, estando no entanto aqui a mão direita sobre um livro, e o braço esquerdo apresenta-se dobrado, provavelmente com a mão (que não se encontra visível) apoiada na anca. A armadura apresenta, nos ombros e nos braços, com pequenas diferenças, uma decoração semelhante à do retrato de 1624. Mas tem ainda uma legenda em faixa branca na zona inferior, a toda a largura, onde se lê, numa primeira linha:

. LVDOVICVS . DE . CAMÕES .

logo abaixo

. PRINCEPS . POETARUM . LVSITANORVM

e numa terceira linha, em caracteres mais pequenos e alinhado à direita, o seguinte texto

. 1655 . I . Laudin . emaillieur . a . Limoges .

Este retrato é um esmalte, portanto, com 29,5 por 23, 5 centímetros, tendo uma moldura de madeira, dourada na parte central interior da frente, com a dimensão de 42,5 por 35,5 centímetros.

Do nome do seu autor pude encontrar referência a Jacques Laudin, dito Le Vieux, que viveu entre 1625 e 1695 e aparece referenciado em algumas obras sobre pintura e esmalte, nomeadamente no volume III do Bryan’s Dictionary of Painters and Engravers, editada por George Bell and Sons em 1904, na cidade de Londres.

Pouco mais poderei dizer sobre este esmalte de Camões, excepto o facto de me ter tentado informar sobre ele e em Portugal pouco se saber sobre esmalte de Limoges, a não ser em loiça, e ainda a possibilidade de se tratar de uma falsificação datada do século XIX, quando a pintura em esmalte entrou na moda e se efectuaram diversas falsas pinturas, conforme fui informado pela Conservadora em Chefe do Departamento dos «Objects d’art» do Louvre, Sophie Baratte.




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