Coisas de outros tempos
quinta-feira, março 17, 2005
Revista «A Esfera»
Muito embora se mantivesse neutral durante a II Guerra Mundial, o regime salazarista mantinha uma clara preferência pelos nacionais-socialistas, ao ponto de facilitar a movimentação dos seus agentes em Portugal, de colocar obstáculos à entrada de refugiados no país, sobretudo de origem judaica, o que chegou a ser alvo de um romance de Erich Maria Remarque, Uma Noite em Lisboa, chegando a afastar o cônsul Aristides de Sousa Mendes por este passar vistos de entrada no país a alguns milhares destes refugiados. Para além disto, enquanto a censura se mostrava activa face a «ameaças» ideológicas de esquerda, tolerava (ou apoiava) a publicação de periódicos que claramente assumiam uma posição que favorecia os países que contituíam o Eixo, nomeadamente a Alemanha, a Itália e o Japão.
Exemplo deste tipo de publicações é a revista A Esfera, sobre a qual não encontrámos referência na base de dados da Biblioteca Nacional, e de que damos aqui dois exemplos, os números 34 e 47, datados de 5 de Dezembro de 1941 e de 20 de Junho de 1942, publicada pela Sociedade Editora A.L.M.A., Ltd., sediada em Lisboa, cujo director era Félix Correia (que, tanto quanto sabemos, foi Presidente da Assembleia Geral do Sindicato dos Jornalistas no biénio 1945/1946, e possui rua com o seu nome em Lisboa, dando igualmente o nome a uma praça na Reboleira), e editor Francisco Rodrigues Tôrres. De grande formato (36,6 x 27 cm), com 32 páginas, publicava diversas rubricas, entre as quais artigos que faziam claramente a apologia da Alemanha e dos seus feitos militares, destacando muitas fotografias de situações de batalha, dando ainda uma primazia a outros aspectos que enalteciam a arte e a cultura alemãs, a sua capacidade fabril, publicitando as emissões da Rádio Berlim, atacando os países comunistas, para além de mostrar diversos aspectos do então intitulado Império Português e de outras demonstrações do regime, como o eram a Mocidade e a Legião Portuguesas, sem esquecer algumas secções dedicadas à mulher, nomeadamente as que incidiam sobre a moda e a culinária.
O seu director, Félix Correia, terá sido o mesmo jornalista que acompanhou a guerra civil de Espanha, pelo Diário de Lisboa, juntamente com muitos outros deste e de outros periódicos, segundo relata um artigo de Alberto Pena Rodriguéz.
Relativamente a esta revista, agradecemos a colaboração de Random Precision.
Etiquetas: II Guerra Mundial, Propaganda, Revistas