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segunda-feira, março 07, 2005

Senhoras e senhores: o papel químico


Um dos métodos mais usados para se reproduzir documentação quando se utilizava máquina de escrever era o de colocar entre duas (ou mais) folhas de papel de escrita uma (ou mais) folhas de papel químico, aquilo a que os anglófilos se referem, com mais exactidão, como carbon paper. Este era constituído por finas folhas de papel revestidas de uma mistura de cera e pigmentos de carbono, geralmente de cor azul ou preta, embora existisse com outras cores, sendo frequentemente comercializado sob a forma de rolo, do qual se ia cortando porções do tamanho das folhas de papel conforme se ia necessitando. A utilização de uma folha desse papel permitia realizar uma cópia do documento e, se a máquina de escrever permitisse introduzir um maior volume de papel no rolo, mais do que uma. Havia ainda quem o utilizasse para efectuar cópias de documentos manuscritos. No entanto, se o documento apresentasse gralhas, as mesmas figurariam nas cópias efectuadas com esta técnica, não sendo por isso possível efectuar correcções, a não ser que fosse colocada uma substância sobre o erro no original e nas cópias, caso em que teriam estas que ser exactamente acertadas, se as folhas tivessem sido já retiradas da máquina, para que a correcção coincidisse tanto no original como nas já referidas reproduções.

O papel químico ainda hoje é comercializado e por isso é ainda utilizado e não é difícil encontrá-lo à venda, pese embora a facilidade na redacção de documentos através da utilização de computadores, com os seus processadors de texto, e as impressoras digitais, para além das fotocopiadoras. A expressão vingou na língua portuguesa, dando origem a expressões como tirar a papel químico. A expressão entrou na linguagem digital através dos correios eletrónicos, que apresentam, para além de um destinatário identificado a quem é dirigida a mensagem, a possibilidade de endereçar a mesma mensagem a vários outros destinatários, que têm conhecimento uns dos outros quando é assinalada a opção cc (carbon copy) ou que não conseguem ver quem mais recebeu a mensagem quando a opção bcc (blank carbon copy) é activada.

Este método terá surgido por volta de 1806 na Inglaterra ou 1808, em Itália, com a finalidade de ajudar os invisuais a escreverem com um estilete, substituindo a tinta, sendo o inventor mais conhecido o britânico Ralph Wedgewood, que decidiu impregnar um papel com tinta preta, a que chamou carbonated paper, o qual inicialmente não vingou devido aos receios de criação de cópias falsas, pelo que as cópias de carbono não eram admissíveis como provas em tribunal ainda por volta de 1870.

Foi então que nos Estados Unidos uma empresa pegou na ideia e deu início à comercialização deste papel, e a generalização do uso da máquina de escrever trouxe consigo uma evidente necessidade de utilização deste método de criação de cópias enquando se produzia o original, o que com estilete era mais difícil, já que, se as cópias eram legíveis, o original, por seu lado, não o era; este mesmo método ficou igualmente ligado à produção das fitas de tecido impregnado de tinta para as referidas máquinas.

A utilização do papel químico veio a cair gradualmente em desuso devido à invenção de novos métodos de criação de cópias, que ultrapassavam a evidente deficiência da quantidade de cópias que este permitia criar. Surgiram então a reprodução a álcool, muito utilizada nas escolas para produzir testes e exercícios para uma grande quantidade de alunos, e mais tarde o duplicador de stencil, e finalmente as fotocopiadoras.

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