Coisas de outros tempos
quarta-feira, janeiro 25, 2006
Propaganda em Portugal 4: Boletins de informação
Como elemento indispensável do esforço propagandístico de guerra, a Embaixada Britânica em Lisboa publicava um Boletim de Informações que, por um lado, publicava notícias sobre o decorrer da guerra e, por outro, relatava as experiências domésticas de resistência face às adversidades.
Este boletim era escrito à máquina e policopiado, em folhas de dimensão do antigo papel azul de 35 linhas, sendo editado pelos Serviços de Imprensa da Embaixada de Inglaterra em Lisboa, destinando-se, sobretudo, às entidades oficiais e aos órgãos de comunicação. Desconheço quantos números foram publicados durante todo o conflito, nem encontrei qualquer referência aos mesmos numa pesquisa na base de dados da Biblioteca Nacional.
Do lado alemão, publica-se aqui um Boletim Cultural de Informações, "fornecido gratuitamente à imprensa pelos Caminhos de Ferro Alemães", igualmente escrito à máquina e policopiado, e com dimensões praticamente idênticas às acima mencionadas.
O seu conteúdo é mais prosaico, pretendendo dar uma imagem de normalidade do quotidiano na Alemanha, com referência aos meios de comunicação, às actividades desportivas, ao problema do tabagismo, tão em voga nos tempos actuais, e que era tão motivo de preocupação na altura para a ditadura nazi como parece ser para as autoridades democráticas dos dias de hoje.
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domingo, janeiro 22, 2006
Propaganda em Portugal 3
A utilização da propaganda em países neutrais no tempo da II Guerra Mundial destinava-se, por um lado, a influenciar a opinião pública desses países, mas sobretudo a minar a moral dos países inimigos.
Não é de estranhar, portanto, que surgissem inúmeras edições, sob a forma de folhetos, opúsculos, livros, publicados em português, tanto pela Alemanha nazi como pela Inglaterra. Mas houve igualmente edições italianas, norte-americanas e outras, se bem que em menor profusão.
Procurou-se, num país maioritariamente católico, influenciar a opinião pública face às perseguições religiosas na União Soviética, mas também relativamente à atitude das autoridades nazis para com a igreja. Deste modo, tanto surgiam panfletos de um lado como de outro a realçar este facto.
Por parte da Alemanha, pretendia-se exaltar o modo de vida do povo alemão sob a regência do nacional-socialismo, que se pretendia exemplar, exterminando doenças, criando condições excepcionais para o operariado, que eram mostrados de férias em Portugal, elogiando as infra-estruturas, como as auto-estradas, colocando em paralelo, por exemplo, as condições nos infantários alemães face aos soviéticos. Por parte dos ingleses, salientava-se a enorme capacidade de resistência e de produção na agricultura e no esforço de guerra sob terríveis provações, ou ainda a liberdade de expressão através da BBC internacional, que a propaganda alemã de imediato atacava, acusando-a de mentir.
Mas havia ainda quem, em Portugal, publicasse opúsculos favorecendo uma das partes beligerantes, sobretudo a alemã, para com a qual havia um notório favoritismo. Não é de estranhar, por isso, que surgissem diversas obras pró-nazis, e se constituíssem editoras destinadas a publicar tais documentos, como foi o caso das Edições Alma, para além do aparelho propagandístico e editorial das próprias embaixadas.
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quarta-feira, janeiro 11, 2006
Propaganda em Portugal 2
O que é do conhecimento geral é que a propaganda se inclui num tipo de mensagens que se destinam muito mais a influenciar a opinião do público-alvo a que se dirige do que a veicular informação, sendo o seu uso mais frequente em contexto político.
O que porventura será menos conhecido é o aproveitamento que daí resultou durante a II Guerra Mundial em países que se mantiveram neutrais durante o conflito, como foi o caso de Portugal.
Como quaisquer dos beligerantes, quer individualmente, quer em grupo, se empenhassem em fazer passar a mensagem de que estavam dentro da razão e que as respectivas posições durante a guerra eram as mais favoráveis, houve um enorme manancial de informação propagandística que circulou no nosso país, ou directamente emanada das representações diplomáticas, sob a forma de boletins informativos, postais, exposições fotográficas, para já não dizer documentários ou filmes de ficção, ou ainda pela publicação de folhetos, brochuras, ou até mesmo livros dedicados a publicitar os regimes, os seus líderes, através de discursos ou obras da sua autoria, tentando de alguma forma denegrir a imagem do inimigo ou contar vantagem relativamente ao poderio militar ou até às estruturas sociais, económicas ou familiares.
Existem diversas fontes de informação sobre esta questão, sendo uma das mais interessantes a obra de António José Telo intitulada Propaganda e guerra secreta em Portugal - 1939-1945, da Perspectivas & Realidades, uma edição um tanto ou quanto difícil de obter, não obstante a sua edição datar de 1990. Mas existem algumas ligações para a Internet sobre a propaganda em Portugal, sobre o papel de Portugal durante a II Guerra Mundial, sobre a propaganda, focando especificamente a sua influência na Alemanha nazi, sendo ainda de referir uma base de dados dedicada a este tema, onde merecem destaque algumas curtas-metragens (aqui sob a forma de pequenos excertos) de animação de carácter propagandístico realizadas durante este mesmo conflito mundial.
Aqui ficam apenas mais alguns exemplos de postais publicados em Portugal durante o período de 1939-1945, tanto pela máquina de propaganda alemã como por parte do seu antagonista britânico. Mais tarde iremos referir-nos a outros tipos de documentação.
PROPAGANDA NAZI
PROPAGANDA ALIADA
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sexta-feira, janeiro 06, 2006
Propaganda em Portugal 1
O Secretariado da Propaganda Nacional (SPN) foi fundado em 1933, tendo ficado directamente sob a alçada do Presidente do Conselho de Ministros, Oliveira Salazar, que escolheu para o dirigir António Ferro, sendo um dos primeiros organismos criados pelo Estado Novo.
Mais tarde, em Fevereiro de 1944, este é extinto, para o que é criado o Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), ainda sob a direcção de António Ferro e mantendo a mesma dependência do Presidente do Conselho.
Era sua função integrar a população no «pensamento moral que deve dirigir a Nação», afectando a esta estratégia uma boa quantidade de recursos e de artistas, de que vale a pena destacar Almada Negreiros, entre outros, que deviam integrar a história de Portugal, o folclore e a arte popular em todas as manifestações de propaganda do regime, associando-se-lhe ainda, na sua nova dimensão, uma vigilância face a manifestações culturais que não estivessem de acordo com este pensamento, e a consequente repressão dessas mesmas manifestações.
A este organismo se associou a Exposição do Mundo Português de 1940, quando grande parte da Europa se encontrava mergulhada num conflito generalizado, e Portugal era um oásis para a espionagem internacional e para a disseminação de todo o tipo de propaganda, desde a nazi até à dos aliados. Em futuros posts iremos aqui deixar alguns exemplos, sob a forma de postais, edições e boletins publicados durante a II Guerra Mundial.
Ao governo de Portugal interessava contentar o seu histórico aliado, a Inglaterra, mas também os alemães e os seus parceiros de coligação, os italianos, com cujos regimes e líderes Salazar simpatizava. Mas era a imagem de Portugal que interessava preservar e enaltecer, o seu império colonial, o seu modo de vida antiquado e rural, os «valores tradicionais», para o que contribuía certamente o atraso cultural e o analfabetismo de que ainda hoje continuamos a sofrer as consequências.
Aqui ficam alguns exemplos de postais publicados como propaganda ao império português e ao inequívoco apoio prestado à Alemanha nazi.
Etiquetas: II Guerra Mundial, Postais, Propaganda