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domingo, novembro 27, 2005

A Crónica Feminina

A revista Crónica Feminina foi uma das que maiores sucessos de vendas obteve em Portugal, sendo publicada semanalmente a partir de 29 de Novembro de 1956 por Aguiar e Dias.

Durou décadas, constituindo por vezes a única leitura de grande parte das mulheres que, muitas vezes com um baixo índice de escolaridade, apenas ali encontravam um lugar onde se fazia eco das suas preocupações, ao mesmo tempo propondo um modelo de feminilidade, muito mais do que pretendendo discorrer acerca dos seus problemas.



Capa da edição número 663, de 7 de Agosto de 1969


Nas suas páginas a mulher era quase sempre apresentada como modesta e simples, e os valores defendidos eram tradicionais, realçando o papel da mulher na família e mostrando-a como o elemento conciliador e unificador, contribuindo assim para preservar o provincianismo em que o país se encontrava mergulhado, bem como os valores morais e sociais da sociedade portuguesa de então, em profundo contraste com a figura feminina que surgia nos filmes franceses ou norte-americanos, pelo menos naquilo que a Censura deixava que os filmes mostrassem.

Era praticamente a única revista feminina, à parte muitas outras apenas dedicadas às «artes domésticas», como a culinária ou a moda, a que uma sociedade mais endinheirada tinha acesso, de entre as quais uma das mais vendidas era a Modes & Travaux.

Para além de um conjunto de artigos mais ou menos frequentes, era possível encontrar nas suas páginas cartas de leitoras, que aí colocavam alguns dos seus problemas pessoais, se bem que nunca abordando de forma incisiva a esfera da sexualidade, a não ser já na sua fase tardia, muito depois da revolução de Abril de 74. Algumas das secções mais populares eram as páginas de fotonovelas, os antepassados da telenovela dos nossos dias, que também surgiram posteriormente em revistas quase inteiramente dedicadas a este fenómeno, como foi o caso da revista Capricho, entre outras.

A Crónica Feminina foi dirigida e fundada por Maria Carlota Álvares de Guerra, onde trabalhou por largos anos, tendo sido também colaboradora da revista Plateia.

Existe um interessante artigo sobre esta revista da autoria de Graça Abranches e João Paulo Moreira, intitulado Sobre a Crónica Feminina publicado no 2º volume de A Mulher na Sociedade Portuguesa pelo Instituto de História Económica e Social em 1986.



Um exemplo de uma fotonovela publicada nas páginas da Crónica Feminina


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